Vivências da Infância
VIVÊNCIAS DA
INFÂNCIA
Kalyandra Khadyne Imai Gonçalves[1]
Nessa
atividade em lembrar da minha infância, tentei buscar as memórias mais antigas
primeiro, e descrever algumas em ordem crescente. Lembro de minha criança
sempre reservada, observadora, e com grandes preocupações. Elenquei as memórias
que me fazem bem e que retratam as experiências e vivências dessa criança.
A
primeira é de um bairro chamado Cocuera, em Mogi das Cruzes, SP, primeiro lugar
que moramos após meus pais saírem do Paraná. Lembro-me de entrar dentro de um
balde grande com água para brincar, andar de bicicleta na rua de terra, correr
no meio da horta.
Depois, moramos em Capixinga,
localizado na área rural de Mogi das Cruzes, SP. Lembro-me de pés de caqui ao
redor de uma estrada de terra e a companhia de minha avó materna, que me levava
para passear enquanto meus pais trabalhavam.
Mais
tarde, morei em um outro bairro chamado Luis Carlos, entre Mogi das Cruzes e
Guararema, no estado de São Paulo. As árvores me encantavam, principalmente as
goiabeiras, que adorava subir e brincar. Embaixo de um coqueiro, eu montava um
hospital de insetos. Afogava as formigas, depois colocava-as em tampinhas de
garrafas forradas com algodão e alimentava-as com água com açúcar na seringa.
Quando voltavam a se movimentar, eu achava incrível e então, retomavam seu
caminho. Havia uma primavera linda, que florescia com flores rosa pink.
Aos
5 anos, mudei-me para a Avenida Presidente Getúlio Vargas, em Mogi das Cruzes,
SP. O quintal era amplo, andava de bicicleta, patins e morava ao lado da casa
dos meus avós maternos. Moramos muitos anos nesse lugar e tenho boas lembranças
dessa convivência.
Na casa, tinha árvores para
subir, muros para escalar, terra para brincar e flores para apreciar. Quando
chegamos nesse local, a rua era de paralelepípedo. Tive a oportunidade de ver
as mudanças no bairro. As ruas sendo asfaltadas, os comércios ocupados, a
avenida cada vez mais movimentada.
Até
hoje, às vezes tenho a sensação de quando voltava da escola. Chegava na casa da
minha avó, a porta da cozinha aberta para a lavanderia, enquanto os raios do
sol entravam e sentia uma tranquilidade, me preparando para o almoço, com a
mente serena, sem pressa de pensar no que precisaria ser feito após. Eu teria
tempo para organizar a minha tarde.
Essas
são as memórias que me fazem bem. Por vezes, as imagens, as sensações ou os
cheiros da infância retornam ao presente e me renovam, além de ser um incentivo
para eu pensar como mãe, qual é a infância que quero que meus filhos se lembrem
no futuro.
Escolhi
essa foto para finalizar meus escritos, que é a imagem que temos ao chegar em
Mogi das Cruzes, SP, cidade que passei minha infância, adolescência e parte da
vida adulta, lugar em que tive minhas primeiras conquistas, decepções e
aprendizados.
Por
anos, passando todos os dias por esse caminho para retornar do trabalho,
sempre, ao ver essa paisagem, gravada em meu coração, vem a sensação de que
“cheguei em casa”, está tudo bem... muito semelhante com o sentimento que tinha
ao entrar na casa de minha avó após a escola, almoçar e aguardar a tarde
chegar.
Atrás
da serra, podemos apreciar uma linda cidade, conhecer quem serão os melhores
amigos de sua vida, andar pelas ruas para acalmar os prantos, respirar fundo
para encontrar uma saída, ir a lugares para se divertir, conversar, degustar, estudar,
trabalhar, encontrar e reencontrar pessoas, entrar nas lojas para ver as
novidades, traçar sonhos, conquistar alguns, renovar ideais, andar de trem e deparar-se
com um amor, romper barreiras, persistir mais um pouco e chegar a novos lugares,
conhecer o mar, ficar em silêncio, vibrar de felicidade, estar exultante, ser
paciente, nunca mais querer voltar, sentir saudades... viver...
[1]Professora da rede municipal de Maringá,
integrante do Grupo de Pesquisa e Estudos em Educação Infantil (GEEI). E-mail: kalyandradoy@gmail.com
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